terça-feira, 18 de março de 2014
Notas mentais nunca compartilhadas
Certa vez presenciei uma conversa que convidava a refletir, de forma não acadêmica (entretanto tendo os valores acadêmicos como pontos para a reflexão), como a paisagem, que segundo uma das interlocutoras revelava apenas um momento do espaço: aquele da forma e assim do ponto de vista do método histórico e dialético seria ela uma ferramenta teórica vazia e simples, poderia ser uma das categorias de análise da Geografia, eu senti não puder ter voz para estimular a reflexão de que o movimento do pensamento histórico e dialético não nega a forma, muito pelo contrário a forma é um dos primeiros elementos que conectam com o mundo real (concreto), a forma ajuda, em um primeiro momento da experiência, a mediar as relações entre a sociedade e a natureza, mas ela sozinha não dá conta, claro, é preciso pensar na indissociabilidade entre forma e conteúdo; é preciso entender que a paisagem não é apenas forma, ela contém a forma, mas só ganha sentido através dos conteúdos, ela, a paisagem, está impregnada de processos históricos que revelam a reprodução social e espacial. A paisagem é a síntese do processo de reprodução da vida, pois contém os elementos do espaço, da sociedade e do indivíduo. Não entendo como a paisagem, sob qualquer prisma epistemológico, não apareça como um elemento rico para as reflexões geográficas. A paisagem é sim uma categoria, teórica e prática, do movimento de construção do mundo, de reprodução da vida... ajuda a ver as contradições, mas só se vista de um ponto verdadeiramente dialético.
Sobre o direito de apresentar a sua própria representação do mundo vivido...
O mundo é visto de várias formas diferentes: texturas, paladares, aromas, cores, ângulos, sonhos, desejos... absolutamente tudo interfere na relação entre os seres e o mundo, e aí tá a potencia criadora do mesmo... physis, logos, poesis, techné... que ele existe antes e existirá depois de nós está claro, mas como o transformamos é talvez a essência de tudo.
quinta-feira, 13 de março de 2014
Ao amigo Allyson Carvalho...
Linhas, parágrafos, palavras... A junção das letras só faz
sentido quando, ainda que de forma atabalhoada como eu faço, tenta mandar uma
mensagem, de qualquer ordem, imagino, as nossas, minhas e suas, na verdade, não
precisam necessariamente da forma métrica do texto, optamos, mesmo trilhando
caminhos distantes, abandonar o cartesianismo e o positivismo pra tentar tirar
da vida lições mais “positivas”... daí que a nossa mensagem se envia pelos
silêncios, pelas trocas de olhares, pelo sorrisos de canto de boca ou por
aquele momento que invisivelmente nos aliamos para trazer um amigo comum à
realidade.
O engraçado é que ao
longo dos poucos, mas intensos, anos de nossa amizade parece que a nossa
mensagem sempre existiu, parece que nos conhecemos desde sempre, ao menos eu sinto
assim. Quase não consigo lembrar direito daquele dia na casa do nosso amigo em
comum que falamos de tantas coisas e entre elas a minha angústia com a
dissertação, processo pelo qual você já havia passado e tentava me tranquilizar
com a sua experiência... conversas, trocas de farpas (é! Somos assim!)
almofadas voando em direção a sua cabeça, amizade que nasceu... depois de
conversas sobre Beauvoir na praia regadas à água de coco, visitas às quadras de
vôlei do CBV, saídas, filmes assistidos,
escritos, resenhados publicados, trocas de cidades, de países... a amizade se
fortaleceu, tanto e ao ponto de irmos em busca de um bolo de maçã integral
juntos, ou de você passar lá em casa para irmos à casa do nosso amiga
conversamos sobre aquele seu fim de romance... Risos, saudades daqueles dias!
Quando se trata de amizade não se precisa medir as intensidades,
não se trata de estar necessariamente próximo (física ou temporalmente), não se
trata de nada além da simples certeza de que existe sinceridade na troca das
mensagens amistosas e amigáveis... Continuo sentindo um orgulho imenso de ser
seu amigo, eu sou absolutamente envaidecido por compartilhar, ao menos nas
mensagens, os seus avanços, progressos e “progressões”... aumentam as
responsabilidades, aumentam as parcerias, amplia-se a base de uma amizade comum
e corriqueira para algo sólido, transcendental...
Obrigado por fazer parte da minha vida, obrigado por sermos
amigos, obrigado por sermos, independente das imposturas da vida, sinceros e
verdadeiros... Encontrar-te foi um achado, não quero perder... acho que nenhum
dos seus amigos gostaria de te perder... não esqueça, você é foda... FELIZ
ANIVERSÁRIO...
...com a admiração de hoje e de sempre, iluminada por um fim
de manhã de um fim de inverno nas terras de Cervantes... Pedro Nóbrega...
terça-feira, 11 de março de 2014
reflexões de uma madrugada sorrateira...
Livros, músicas, filmes, poemas, poesias... todas estas obras têm começo, meio e fim, mas são absolutamente abertas... cada pessoa que experiencia qualquer uma delas tem o direito de interpretar como queira, porque cada pessoa sabe o canal criado subjetivamente pra que algo se torne inteligível (consciente ou inconscientemente), por isso tenho muito cuidado no debate sobre obras, por isso me dá angustia o que eu quero dizer, mas se eu quero dizer, peço desculpas por isso, mas tenho que dizer: você não entendeu nada do filme, da poesia na violência carnal propiciada pelo desejo, pelo angustiante desejo de querer, de sonhar, de chegar perto daquilo que se quer possuir e ao mesmo tempo perceber que até a posse momentânea realizada pela desejo instintivo não vale nada se o lastro da confiança, do respeito e do carinho foram perdidos... talvez aí esteja o momento racional fundamental para se perceber que até as loucuras e ilusões nomeadas de amor têm um fim, esse fim não é concreto, não é claro, mas ainda assim se sente... não tem a ver com brios feridos, não tem a ver com a razão acima do sentimento, talvez tenha a ver com amor próprio, tenha a ver com entender que tudo na vida pode durar exatamente aquilo que feito pra durar... Segue em frente, isso é crescer e crescer dói, mas é melhor ser um gigante com coleção de dores do que um pequeno alegremente bobo... (madrugada de 12 de março de 2014, dos devaneios provados a partir da cabeceira da minha cama - from Spain - um pouco distante de tudo que era tão perto)
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