quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Olá gente, eu estou enviando o primeiro Boletim Medellín, acho que ainda será um pouco incompleto, até porque já se passaram 14 dias da minha chegada e essas informações quando não estão frescas acabam que passando despercebidas. Levando em consideração que o Boletim se chamará Medellín não entrarei em detalhes sobre o processo da viagem, a narrativa começará com a chegada no aeroporto de Medellín. Quando se chega, a entrada é quase que por cima, tem que se baixar um piso pra ir até o local onde as malas estão disponíveis, então, todo desconfiado, preocupado com o meu novo idioma e a nova maneira de colocar o meu “portuñol” para que fosse entendível pelos nativos. Pus-me a procurar ler placas e repetir os movimentos gerais que todos fazem, essa pela capacidade dos brasileiros em comer quietinho, ver o entorno para não errar. Quando desci para o salão das malas, estava tudo muito cheio e muitas malas passando pela esteira. Então, tentei me aproximar e acompanhar o movimento, passa 3 minutos e nada da minha mala chegar - ela óbvio estava identificada com as famosas fitinhas verde e amarela que todo brasileiro, que tem o mínimo de patriotismo, coloca pra poder se destacar diante a multidão e que funciona também quase como um acordo velado que pressupõe: aí está a mala de um brasileiro, eles são legais, o país do samba, carnaval, caipirinha, não toquem nela, deixem a mala passar, não a percam, provavelmente o cara é gente boa – enfim, mesmo com todos esses avisos velados, passaram 6 minutos e nada da mala do “cara legal passar”, passaram algumas parecidas, mas, nenhuma preenchida com o espírito canarinho. Pensei: Podem ter se confundido e levado a minha mala, mas, será que tinha mais alguém com tantas brasileirisses quanto eu? Muito improvável. Ponho-me apreensivo e percebo que passados 10 minutos – quase nenhuma bagagem na esteira, quase nenhuma pessoa no salão – tem uma mulher de óculos escuros procurando a chegada de alguém, deduzi que seria a Aura – professora Colombiana que ficou de me buscar no aeroporto, com quem tive pouco contato no Brasil, mas, que foi a responsável pela minha vinda a este país – aceno, ela responde afirmativamente e então estou mais tranqüilo, se a minha mala desaparecer tem pelo menos alguém conhecido pra me ajudar com o negócio de reclamar junto à empresa colombiana – AVIANCA. Mais 3 minutos e a mala nacionalista chegou, UFA ... Um problema a menos, agora será a fase: entrar em contato com as pessoas, até então pouco conhecidas. Quando saio, sou recebido com algumas fotos, há que se registrar o momento da chegada, junto a ela está Clara, a dona da casa onde eu vou morar por um ano. Devidas apresentações feitas, comentários a parte – “puxa, você está diferente das fotos, mas, que bom que a gente se encontrou, vamos o carro está estacionado logo ali”. Então, fomos direção ao carro, e eu pensei é minha oportunidade de treinar o español e comecei a apresentar o meu melhor espanhol, que pra eles na melhor das hipóteses seria no máximo um portuñol. Mas, aí vem o elogio, - Chico, tienes un español muy bueno, vocaliza todo, muy bien. Depois desse elogio o meu espanhol caiu de rendimento e tenho certeza que ela se arrependeu de ter elogiado, mas, seguimos nos comunicando. A primeira aventura foi que ela achava que tinha, e apenas alguns minutos, roubado o som do seu carro que estava na bolsa de Clara. Ainda bem que não roubaram, a Clara tinha apenas perdido o som dentro da bolsa, era só uma questão espacial. O que eu pensei: Graças a Deus que não perderam o som, porque como estou chegando a culpa poderia ser indiretamente atrelada a mim, e eu teria que pagar um som que nem havia desfrutado. O caminho até a casa foi super agradável, pois, como o aeroporto internacional de Medellín fica um pouco afastado, tivemos como uns 40 minutos de viagem e eu pude perceber a beleza que é a cidade, pois, ela está construída em um vale, o vale do rio Aburrá, e por isso o entorno é de muitas montanhas, uma paisagem indescritível digna de qualquer geógrafo ficar impressionado. Chegamos até a casa onde eu vou ficar, está na área metropolitana de Medellín, baixei as malas, entreguei os presentinhos, cachaças, livros, etc. Tudo uma festa, abrimos a cachaça e fizemos caipirinha, uma boa maneira de socializar as pessoas. Bebemos, todos já estavam a minha espera, enfim. Foi um momento bastante interessante. Daí então, fomos dar uma volta de carro na cidade, Aura apresentando os principais pontos, fazendo comentários, quase uma excursão didática. Paramos na casa de Aura, fomos fazer o jantar, comemos peixe ao forno com salda, que eu adoro... Pra mim não havia dito melhor recepção. Entre silêncios e tentativas de buscar novas conversas, de cada um conhecer o outro melhor a noite foi passando e fomos ficando cansados. Então, Clara e eu resolvemos voltar pra casa. Foi a minha primeira experiência com o metro de Medellín, aparentemente muito parecido com o sistema de metros da França, inclusive o ticket de ingresso é o mesmo, branco com um leitor escuro no meio, e as catracas muito parecidas. A cidade se revelava imensa pra mim, pois, assim como Recife, Medellín tem quase 2 milhões de habitantes, e somada a região metropolitana chegasse facilmente aos 3 milhões de pessoas. Aparentemente a cidade é bastante limpa e ordenada. A população tem um traçado notadamente indígena, mas, que com o tempo vai se percebendo que também fazem parte de um grupo muito miscigenado. São pessoas bonitas, em sua maioria bem vestida, mas, como toda metrópole latino-americana tem traços muito fortes de pobreza, tanto nas construções e forma de vida, quanto nas pessoas. Ou seja, esteriotipadamente muito parecidas com as estruturas urbanas brasileiras. No dia seguinte, acordei cedo e sai ao desfile dos silleteiros, é uma espécie de desfile com flores em que as pessoas que trabalham na zona rural constroem estruturas de madeira ornamentada de flores, e cada um constrói a sua, existe mais de 100 artesãos que fazem a caminhada, o desfile com as suas armações de madeira e flor. É um espetáculo muito bonito, inicia às 14h e vai até as 18h, mas, às 17h já estávamos cansados e mortos de sono, então demos pro encerrados, fomos a um restaurante comer a “bandeja paisa”, que é uma combinação do que há de mais tradicional na culinária local e é servida desse jeito: Em uma bandeja vem arroz, carne, ovo frito, batatas, salada, arepa – uma espécie de pãozinho feito de farinha de milho – banana frita e salsicha, além dessa bandeja acompanha uma cumbuca de feijão, de verdade é muito gostoso, mas, também é comida pra duas pessoas, eu quase não pude comer tudo. O final do Sábado foi assistindo filme na casa de Aura, e dormi por lá, porque de manhã tinha que ir à Universidade, pois, já havia algum trabalho para fazer. Na tarde do sábado viajamos a Santa Elena, uma espécie de Gravatá ou Garanhuns daqui, é um lugar alto, frio, onde existem muitas propriedades rurais, é o local de onde saem os artesões do desfile das flores que mencionei há pouco. Clara tem uma casinha por lá e fomos conhecer, caminhar um pouco pelas redondezas. Foi uma experiência muito interessante, e uma incursão pela culinária e hábitos colombianos. Ficamos lá até o domingo pela parte. Na volta fomos procurar uma artesã que Aura tinha encomendado algumas coisas, mas, como não sabíamos o endereço dela tivemos que procurar, uma viagem a parte. Quando chegamos à casa dessa senhora, uma surpresa, ela conhecia o Brasil e já havia estado em Recife, tinha boas recordações da cidade e acho que por isso nos recebeu muito bem. A segunda surpresa é que a casa dessa senhora era feita de Madeira, Papel e Lata, mas, não se impressionem por isso, afinal, toda favela é assim, só que a diferença é que a casa dessa artesã parecia mais ser casa de classe média alta, muito bonita, a mulher era um gênio, seu marido é professor de artes já aposentado da Universidade de Antioquia, o equivalente a UFPE, por exemplo. E, eles têm um padrão de vida bastante elevado, conhecem o mundo inteiro, e ela, a artesã é dona de uma sabedoria inestimável, essa foi a maior e mais bonita descoberta da viagem.Depois disso voltamos pra casa, descansamos, afinal na segunda começaria na Universidade, a segunda começou com reunião de apresentação com os professores da faculdade de ciências sociais a qual estou vinculado, apresentações e mais apresentações, formalidades de documentos e essas atividades duraram a semana toda. O segundo final de semana aqui foi acompanhado de um feriado na segunda-feira, então, Aura e eu viajamos para a casa de seus parentes. Foi uma viagem bastante interessante, conheci bastante pessoas, bastante lugares. E agora o retorno às atividades é indispensável. Entrar na rotina da Universidade e dar conta do trabalho tem sido o exercício, há muita coisa pra fazer, e essa semana fui inaugurado em sala de aula, estou dando aula em parceria com um outro professor da casa na disciplina de ordenamento territorial. É com essa espécie de relatório que eu compartilho as minhas primeiras experiências colombianas que não se restringem mais a Medellín, já estou me interestadualizando. Posso dizer como síntese que o processo de ocupação, o ciclo cafeeiro que a região que conheço está atrelada, as formas de condicionar o urbano, as possibilidades de trabalho, a dinâmica informal e o estilo de vida das pessoas convertem a Colômbia em uma espécie de protótipo do Brasil. Há muitas semelhanças.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Despedida

Aos amigos, próximos, distantes, de hoje, de ontem de sempre e aos que a vida ainda irá se encarregar de aproximar. Todos vocês foram e são fundamentais, acho que sem o amor que a amizade proporciona a vida seria bem menos intensa. Cada um com seu jeito, com sua fala ou sua forma de calar tem me ajudado muito. Estou me tornando um ser humano melhor. Concluo a fase atual da minha vida sabendo que posso iniciar uma nova com a consciência do dever cumprido junto a todos. Claro que como tudo que fazemos, por sermos seres humanos, deixamos lacunas, e às vezes posso não ter dedicado tempo suficiente, mas, fui intenso até onde pude. Amei, chorei, sorrir, vibrei, zanguei e todos os que estavam perto de mim devem ter a certeza que eu tentei ser o mais intenso e presente possível. Agora, me sinto pronto para iniciar uma nova etapa, um novo ciclo. Por isso, estou escrevendo esse e-mail para comunicar aos meus, aos que quero tanto bem, que no dia 5 de agosto estou indo para Colômbia, mas, espero reencontrar todos quando da minha volta. Estarei menos perto fisicamente, mas, tentarei estar ligado a todos. Muito obrigado por tudo e por todo o processo de aprendizado, vamos em frente trilhar um novo caminho. Os laços construídos são permanentes... Amo todos!