terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A banalização dos templos e a emergência de um novo “deus”?



A sociedade ao que parece tem banalizado os seus templos.

Chego a acreditar que há uma espécie de vulgarização e banalização do sentido das coisas a serem contempladas.

Num olhar despretensioso vejo, ao longo do tempo, a decadência dos grandes templos gregos e dos cultos às divindades “elementais e superiores” (de qualquer forma exterior, distante e em uma posição hierárquica maior que o homem), é sensível a decadência cada vez maior e progressiva da forma como a igreja católica toma conta dos seus templos (estes ainda cheios de pompa, mas em franca decadência – ao que parece). Seguindo na linha da desvalorização física, real e concreta do lugar do culto, vejo a emergência pentecostal e junto com ela a banalização do lugar do contato dos fiéis com a religião, não há mais o templo construído para o culto, no lugar disto há a adaptação dos locais comerciais a essa nova forma de estabelecer as relações dos humanos com a sua fé.

Há uma “comercialização” das religiões? Não saberia responder, mas o que me assusta mais é que com esse movimento de banalizar a relação dos homens com seus deuses, parece-me que estes se tornaram cada vez mais antropomórficos, perderam o status de seres superiores e agora residem na terra, melhor ainda, residem em cada um de nós, eles não são mais nem antropomórficos, eles agora são o próprio homem, só que não é qualquer um que tem acesso a eles, o acesso a estes novos deuses percorre um caminho muito longo, de grande devoção e de muito sacrifício, como tem que ser toda relação com a divindade, não?

...esses novos deuses estão fragmentados, mas eles têm um líder, o corpo, o novo deus é o corpo e as divindades são as cápsulas, pílulas, complementos, suplementos e equipamentos que deixam esse deus forte e valente... Foram criados centros, ainda que banalizados, para a devoção a esse novo Olimpo, as academias de ginástica! ...e a fé nestes deuses está levando a montagem de um exercito. ...são atletas do corpo, claro... Não precisam ser atletas para mais nada, o novo deus todo poderoso “corpo” não requer finalidade exterior, apenas fidelidade com a forma, ele tem que emergir belo, sem dobras, rígido, esbelto, potente... Quanto mais preparado, mais próximo de atingir o nível nirvana... Todos agora treinam para ser atletas ou servir ao exercito deste novo deus, claro, só pode ser isso... As pessoas não se exercitam para sentir o prazer de realizar uma atividade física, elas treinam, treinam e treinam. Pedalam, correm, levantam peso, praticam lutas, etc., só podem estar se preparando para uma guerra em nome do “deus corpo”. Não podem perder tempo, os fiéis deste novo deus se comunicam pela forma, ah e como eles são “endógenos”, na sua maioria só se relacionam com os que professam a mesma fé, seria a emergência de uma nova raça pura construída pela fé ao “deus corpo” e todas as divindades correlatas? Também não saberia dizer, mas esse “deus corpo” parece ser muito exigente, ele quer encontrar meios de fazer com que os seus seguidores não mais enfraqueçam. Ficar velho é a prova que se está perdendo o poder e a divindade? Ficar fraco seria abominável para essa nova legião de seguidores... Mas o “deus corpo é efêmero”, ele passa, ele perde potência para o seu maior inimigo, o deus do Tempo... Por isso os fiéis do corpo querem descobrir um jeito de enganar Cronos. Acho que desta angustia é que se banaliza e vulgariza o lugar do culto, em todo lugar há um novo templo, às vezes a dois quarteirões da casa dos fiéis... Seria este o recurso para não abandonar este deus emergente? E quando for impossível segui-lo? Todos esses fiéis mudaram de religião?

Acho que não vivo o meu tempo, talvez seja mesmo anacrônico, mas não quero servir a esse novo deus...

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Protestar porque reivindicar é da natureza humana!

Não raro escutamos de muitas pessoas que: protestos e lutas por questões sociais não valem à pena! Que não adianta, porque os que estão no poder não escutam as reivindicações!
Há muito não ter uma resposta a isso me constrange, principalmente pela falta de elementos capazes de me ajudarem a convencer do contrário, e, muitas vezes, na busca por tentar confrontar meu opositor eu acabo indo na direção contrária e me perguntando: Qual o sentido disto tudo, mesmo?
Há infinitas respostas pra o sentido disto tudo, o duro é conseguir fazer com que essas respostas se tornem algo capaz de convencer a nós todos, desisti não há como fazê-lo! ... No entanto, o que me move mais é entender que, principalmente no nosso país oligárquico de tradição tupiniquim de se vender por espelhos e outras porcarias, não podemos mais nos entregar por qualquer trocado.  Temos que lutar, gritar e protestar porque se não lutamos, gritamos e protestamos ninguém sabe que estamos incomodados...
Assim como os vitimados pelo “Franquismo” gritam regularmente na porta do sol, aqui em Madri, temos que seguir gritando nas ruas do nosso país, mesmo que alguns finjam que não nos escutem temos que gritar cada vez mais alto; temos a obrigação de fazer com que os que sofrem das mesmas dores que sofremos saibam que há um lugar onde eles possam gritar também, um a um vamos juntando um mesmo grito e só desta forma teremos a possibilidade de transformar esse grito em um coro, transformando no coro podemos agregar mais vozes e quando menos perceberem será uma multidão de “gritalhões”, mas o grito não pode ser niilista, temos que saber sobre o que gritamos e quais os sentidos que nos direciona...  Assim não só assustaremos, mas proporemos, debateremos e por vezes ganharemos algum pleito, cada vitória, cada passo será um milagre, será o desvencilhar de um grilhão de silêncio que nos amarra, controla e paralisa há tantos anos, séculos...

Não há jeito novo, ao menos ainda não o inventaram, sejamos insurgentes, ativos e propositivos... Os confortos conquistados por uma classe média inventada é mais um destes grilhões que nos cerceiam... Calar vai contra a nossa natureza de seres gregários, políticos, participativos... Impliquemo-nos, desçamos deste pedestal inventado... Há razão pra vivemos em grupo e ela não pode ser esquecida... Protestar porque reivindicar é da natureza humana!

sábado, 8 de fevereiro de 2014

A ameaça às coisas “de toda la vida”...
Depois de alguns dias na capital espanhola, algumas novas expressões, palavras e formas de se comunicar frente às necessidades da vida cotidiana vão se apresentando e agregando valor ao vocabulário ainda limitado do recém-chegado estrangeiro...  eis que entre um monte de coisas, sensações, descobertas, estranhamentos e reconhecimentos surge uma expressão de certa forma simples e graciosa que do nada me fez pensar... “de toda la vida”... ao que parece esse é um recurso usado com bastante frequência pelos espanhóis...
... caminhando, conversando, escutando e percebendo os detalhes das falas e discursos não dá pra ser omisso à carga pesada dada ao momento da crise atual, parece que há anos não se sentia na pele de maneira tão forte os efeitos de um “abalo sísmico econômico” nos elementos do dia-dia... e aí quase que por um intertexto não apontado explode em mim o sentido das “cosas de toda la vida”, são os vizinhos de toda la vida que não estão mais nos barrios de toda la vida, são as compras de toda la vida que não se pode fazer como se fazia por toda la vida, são os mercados e os locais dentro dos mercados de toda la vida que não estão mais lá... ahhh, os cinemas, teatros, restaurantes, lugares e serviços de toda la vida que não mais estão ali pra ajudar a contar às histórias de toda la vida...

... que triste perceber que esse movimento atual (chamem do que quiserem chamar) ameaça de forma violenta e sintomática las cosas de toda la vida, não só na Espanha, mas em todo mundo, vivemos um momento na reprodução da vida social que já não temos as coisas de toda la vida, a flexibilização da produção, os novos padrões e forma de consumo, a precarização do trabalho, o recrudecimento de todas as ordens impostos à maneira de se viver têm eliminado sem nenhum constrangimento as coisas de toda la vida... os bairros estão devastados, as relações sociais rompidas... a casa não está mais lá, no lugar dela prédios funcionais e frios, um conjunto deles... conjuntos fechados com seguranças, guaritas, câmeras, fios, controles remotos, sensores remotos... a vida não é mais como foi vivida por toda la vida... que estranho esse mundo novo que pra mim está sendo construído por um capital(ismo) em crise e cheio de perversidades ... estamos perdendo a vida, por toda la vida!?!