... Ultimamente tenho pensado muito e tentado entender um pouco esse estado de insatisfação coletiva que tem assolado a todos os jovens, aqueles que têm os seus vinte e poucos anos, ou seja, nos que compartilhamos o mesmo conjunto de influências, que fomos protótipos e representantes fies de um modelo de BRASIL que sustenta em si a marca de contradições muito profundas e que notadamente vive uma troca de paradigmas...
Somos, a meu ver, frutos de um projeto de modernidade falido que se transformou no que alguns chamam de pós-modernidade... Não sei de fato que nome dar a isso que estamos vivendo; não sei se isso é fruto de uma inconsciente frustração coletiva. O que sei, ou melhor, o que me parece ser capaz de sentir é que estamos formando um exército de jovens cansados, frustrados, sem sonhos, mas, ao mesmo tempo com ambições, cheios de egoísmos e egocentrismos, estamos sonhando com a vida fácil, nos viciamos em um mundo ‘fast food’ em que os resultados de grandes coisas têm que acontecer tão rápido quanto o tempo de espera na fila da ‘sanduicheria’...
Sinto que o amor, para nossa recém e compartilhada juventude é contraditório, ele é romântico enquanto sonho e virtualidade, mas, na prática, no mundo real as pessoas estão cada vez mais se usando, a fidelidade é cada vez mais anacrônica, a admiração é cada vez mais uma peça que reside no museu dos sentimentos, a construção coletiva e compartilhada é cada vez mais substituída pelo desejo alucinado de crescer só, a ambição está imbricada com a inveja e o crescimento do outro parece necessariamente refletir a perca do espaço do eu... Isso tudo está ajudando a criar um estado de histeria coletiva em que as vaidades e o proto-racionalismo construído em cada sujeito só o fizesse capaz de julgar o outro, mas, um julgamento sem possibilidade de defesa do réu, um julgamento cognoscitivo em que o outro já está previamente julgado, culpado e condenado e o juiz, ah o juiz sempre está protegido e envolvido por um sacrossanto manto de razão, verdade e certezas... o eu nunca será subjugado ao outro, quem é o outro?
Aí, então essa atmosfera, esse Zeitgeist, de nossa época cria sujeitos que não se pensam, quase os deuses do poema, e por não se pensarem não se encontram, não se aceitam e não são felizes, e são apáticos e vivem a espera de que suas verdades sejam reconhecidas em arena pública, mas, como esperar que os líderes do exercito do ‘eu sozinho’, como dizia aquela outra música, reconheçam no outro um outro, só eus, e nunca eles, e por isso lá no fundo as pessoas perderam a esperança, o brilho nos olhos e a disposição de lutar, porque nem elas mesmas acreditam que alguém sairá de seu mundo individual para reconhecer a beleza do mundo do outro...
Então de repente nada faz mais sentido, nem família, nem amigos, nem amores, nem as amélias, elas não mais existem... Vivemos um mundo vazio de outros e cheio de eus e um mundo assim fica muito sem graça... Qual o sentido da construção social da vida?
Copyright: Operários, Tarcila do Amaral (Imagem Ilustrativa)
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