Miguezim de Princesa
I
I
Peço à musa do improvisoQue me dê inspiração,Ciência e sabedoria,Inteligência e razão,Peço que Deus que me protejaPara falar de uma igrejaQue comete aberração.
II
II
Pelas fogueiras que arderamNo tempo da Inquisição,Pelas mulheres queimadasSem apelo ou compaixão,Pensava que o VaticanoTinha mudado de plano,Abolido a excomunhão.
III
III
Mas o bispo Dom José,Um homem conservador,Tratou com impiedadeA vítima de um estuprador,Massacrada e abusada,Sofrida e violentada,Sem futuro e sem amor.
IV
IV
Depois que houve o estupro,A menina engravidou.Ela só tem nove anos,A Justiça autorizouQue a criança abortasseAntes que a vida brotasseUm fruto do desamor.
V
V
O aborto, já previstoNa nossa legislação,Teve o apoio declaradoDo ministro Temporão,Que é médico bom e zeloso,E mostrou ser corajosoAo enfrentar a questão.
VI
VI
Além de excomungarO ministro Temporão,Dom José excomungouDa menina, sem razão,A mãe, a vó e a tiaE se brincar puniriaAté a quarta geração.
VII
VII
É esquisito que a igreja,Que tanto prega o perdão,Resolva excomungar médicosQue cumpriram sua missãoE num beco sem saídaLivraram uma pobre vidaDo fel da desilusão.
VIII
VIII
Mas o mundo está viradoE cheio de desatinos:Missa virou presepada,Tem dança até do pepino,Padre que usa bermuda,Deixando mulher buchudaE bolindo com os meninos.
IX
IX
Milhões morrendo de Aids:É grande a devastação,Mas a igreja acha bomFurunfar sem proteçãoE o padre prega na missaQue camisinha na lingüiçaÉ uma coisa do Cão.
X
X
E esta quem me contouFoi Lima do Camarão:Dom José excomungouA equipe de plantão,A família da menina E o ministro Temporão,Mas para o estuprador,Que por certo perdoou,O arcebispo reservou A vaga de sacristão.